
Procuro por algo há muito tempo. Algo que me complete, preencha. Mas nunca soube ao certo o que. Procurei em lugares, pessoas, errados! Errados não por eles próprios, mas errados por mim, pela busca desregrada. Errados foram os momentos, a ocasião, não as pessoas.
Está chovendo lá fora, uma chuva fina e insistente. Aqui dentro apenas um filme passando pela segunda vez, um café quente na xícara e uns cigarros apagados, em flores.
Resolvi tentar explicar com palavras, tentar achar respostas para essa inquietude. Aliás, eu sempre tento. Penso e escrevo, escrevo e penso, e não chego a lugar algum.
Acho válido citar que o filme que estou assistindo é “A mulher invisível” e concordo plenamente com a moral da história: a perfeição não existe.
Mas, voltando ao assunto, de tanto pensar, procurando a resposta, entendi que o problema é justamente não conhecer a mim mesma tão bem quanto imaginava. Como posso procurar algo, se nem sei o que preciso? Ir a tantos lugares, sem saber realmente o que gosto de fazer?
De mim sei que, gosto de ver filmes repetidamente, é bom para compreender alguns detalhes; e também que, não posso ler um texto antes de terminar de escrevê-lo, me sinto ridícula, platônica... É desestimulador.
Mas, o que é ser ridículo? O que é ser normal? É tudo uma questão de foco ou conveniência, dependendo da situação. Digo conveniência porque, determinadas –regras- são feitas segundo o interesse de alguns, e o resto, simplesmente, aceita. Seguem sem pestanejar.
Não gosto dessas regras. Não posso acreditar que as pessoas sejam tão estáveis, padronizadas. A instabilidade é o segredo do encanto. Quando conhecemos alguém e esse alguém se torna especial, é justamente pelas peculiaridades, pela graça da descoberta, do diferente.
Eu não quero uma extensão de mim, quero o complemento. Não quero que alguém goste sempre das mesmas coisas, quero que me apresentem o novo.
Não sei por que o texto está tomando este rumo, mas os textos, as palavras e as idéias são livres. O papel do escritor, não que eu o seja, é dar o espaço e a possibilidade que as letras precisam para se encontrar.
O fato é que toda essa “liberdade literária” causa idéias sem nexo algum. Mas e o que é o nexo? Por que precisamos dele? Ok, não vou recomeçar os questionamentos, seria redundante.
Enfim, o que quero dizer é que a vida é isso: essa confusão, mistura louca de sentimentos, erros e acertos. Porque é isso que nos mantém vivos. A perfeição é boa apenas no inicio, depois abre espaço para a monotonia.
Sejamos instáveis, imperfeitos, confusos, mas, sejamos! Ser gente de verdade, que ama, odeia, chora e sorri, gente que sente e que se deixa sentir.
[Déka Dias]